
Comportamento dos Cervídeos: Entendendo a Vida e a Interação dessas Espécies
Série: Conservação e Manejo de Fauna/ Comportamento e Bem Estar Animal/Cervídeos Projeto: Eco Cidadão do Planeta ICA/UFMG. Artigo Técnico/ Conscientização/ Ponto de Vista nº 1 Autoras: Ana Clara Silva Pereira Nunes e Letícia Carvalho Borges Orientador: Prof. Délcio César Cordeiro Rocha ICA/UFMG
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9/25/2025

Comportamento dos Cervídeos: Entendendo a Vida e a Interação dessas Espécies
Série: Conservação e Manejo de Fauna/ Comportamento e Bem Estar Animal/ Cervídeos
Projeto: Eco Cidadão do Planeta ICA/UFMG.
Artigo Técnico/ Conscientização/ Ponto de Vista nº 1
Autoras: Ana Clara Silva Pereira Nunes e Letícia Carvalho Borges
Orientador: Délcio César Cordeiro Rocha ICA/UFMG
Resumo
Os cervídeos (família Cervidae) compreendem um grupo de mamíferos herbívoros distribuídos em diferentes ecossistemas do mundo, com ampla diversidade de espécies e comportamentos adaptativos. Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre os principais aspectos do comportamento desses animais, incluindo a vida em grupo, a demarcação de território, os sistemas de comunicação e vocalização, as estratégias de migração, o comportamento alimentar e de forrageamento, bem como o comportamento reprodutivo. Constatou-se que os cervídeos apresentam grande plasticidade comportamental, variando de acordo com o ambiente, a estação do ano e a estrutura social das populações. A compreensão desses aspectos é fundamental para a conservação da biodiversidade e o manejo sustentável das espécies.
Palavras-chave: Cervídeos. Comportamento animal. Territorialidade. Forrageamento. Reprodução.
Introdução
Os cervídeos são mamíferos artiodáctilos pertencentes à família Cervidae, que engloba mais de 50 espécies, desde o pequeno veado-mão-curta (Mazama spp.) até o majestoso alce (Alces alces), distribuídas pela América, Europa e Ásia, ocupando uma variedade de habitats, desde florestas tropicais até a tundra ártica, esses animais desenvolveram um complexo repertório comportamental que lhes permite sobreviver, reproduzir-se e coexistir.
No Brasil, espécies como o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) e o veado-mateiro (Mazama americana) representam importantes componentes da fauna silvestre (DUARTE; REIS, 2012).
O estudo do comportamento dos cervídeos fornece subsídios para a compreensão da ecologia, da biologia reprodutiva e das estratégias de sobrevivência da família. A observação de aspectos como vida social, territorialidade, comunicação e estratégias alimentares é essencial para o manejo e a conservação dessas espécies, muitas delas ameaçadas de extinção (EISENBERG; REDFORD, 1999). Assim sendo, este artigo explora os elementos centrais do comportamento dos cervídeos, integrando-os ao contexto de sua ecologia e evolução.
Diversidade de espécies
Os cervídeos apresentam grande diversidade morfológica e ecológica. Enquanto espécies como o caribu (Rangifer tarandus) vivem em grandes grupos migratórios no Ártico, espécies sul-americanas como os veados do gênero Mazama são mais solitárias e territorialistas (GEIST, 1998).
Os cervídeos, conhecidos popularmente como veados e cervos, constituem uma família chamada Cervidae, que abrange diversas espécies fascinantes. Entre as mais conhecidas estão o cervo-vermelho (Cervus elaphus), o veado-brasileiro (Mazama gouazoubira) e o alce (Alces alces). Cada uma dessas espécies possui características físicas distintas e um ponto de distribuição que varia bastante.
O cervo-vermelho, por exemplo, é uma das maiores espécies de cervídeos, sendo encontrado nas florestas da Europa e da Ásia. Possui pelagem castanha avermelhada e é notável por seus grandes chifres que, anualmente, passam por um ciclo de crescimento e queda. Os cervos são frequentemente vistos em manadas, principalmente durante a estação de acasalamento, que é um período de intensa atividade e vocalizações.
Por outro lado, o veado-brasileiro é uma espécie menor e apresenta uma pelagem mais discreta, predominantemente marrom. Esta espécie é adaptável e pode ser encontrada em uma variedade de habitats, incluindo florestas tropicais e campos abertos no Brasil e em outros países sul-americanos. O veado-brasileiro é frequentemente solitário e, em vez de viver em grandes grupos, prefere áreas densas para se esconder de predadores.
O alce, a maior espécie da família Cervidae, é encontrado nas regiões frias do hemisfério norte, como o Canadá e a Escandinávia. Caracteriza-se por sua grande estatura e pela presença de uma característica bolsa de pele sob a garganta. Os alces são conhecidos por sua habilidade em nadar e pela dieta que inclui uma ampla variedade de vegetação aquática e arbórea.
Além dessas espécies, existem outros cervídeos que se destacam, como o cervo-do-pantanal e o veado-de-cauda-branca, cada um com suas peculiaridades e adaptabilidades que os tornam únicos dentro do grupo. Compreender essas diferenças é crucial para a preservação e conservação das populações de cervídeos no ecossistema global.
Vida em Grupo
A estrutura social dos cervídeos é variável e plasticamente influenciada por fatores como disponibilidade de recursos, densidade populacional e pressão de predação. Podem ser observados desde hábitos solitários até a formação de grandes manadas.
· Solitários: Muitas espécies de veados de floresta são largely solitárias, com machos e fêmeas interagindo basicamente durante a época reprodutiva.
· Grupos Matriarcais: Fêmeas e suas crias frequentemente formam grupos familiares coesos, como observado em cervos-vermelhos (Cervus elaphus) e veados-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus). Esses grupos oferecem proteção às crias e facilitam a localização de recursos alimentares.
· Manadas sazonais: Em algumas espécies e em certas épocas do ano (especialmente no inverno), indivíduos podem se agregar em manadas maiores para termorregulação e defesa coletiva.
A vida social dos cervídeos varia conforme a espécie e o ambiente. Alguns cervídeos são altamente gregários, formando grandes manadas, especialmente durante as migrações, como no caso dos caribus. Outros, como o veado-catingueiro, vivem solitários ou em pequenos grupos familiares (DUARTE; REIS, 2012).
A vida em grupo é um aspecto fundamental do comportamento dos cervídeos, refletindo sua adaptação às condições ambientais e de sobrevivência. Esses animais, que incluem espécies como veados, alces e cervos, tendem a formar agrupamentos conhecidos como manadas. A estrutura social dessas manadas pode variar consideravelmente, dependendo da espécie, da região e das condições climáticas.
Os cervídeos geralmente se organizam em grupos que podem ser compostos por fêmeas e seus filhotes, ou em grupos mais mistos que incluem machos e fêmeas. Nas manadas de fêmeas, a coesão é vital, especialmente durante a época de cuidados com os filhotes. O agrupamento fornece segurança, pois os cervídeos podem alertar-se mutuamente sobre a presença de predadores, aumentando suas chances de sobrevivência. Essa vigilância coletiva representa uma estratégia eficaz contra caçadores naturais, como lobos e grandes felinos.
Os machos, por sua vez, muitas vezes são encontrados em grupos mais dispersos, especialmente fora da época de reprodução, quando competem por território e recursos. Além disso, esses grupos podem ser temporários, com machos se reunindo especialmente durante o período de acasalamento, apresentando uma dinâmica social que facilita a segurança e a reprodução. O comportamento social dos cervídeos é, portanto, um equilíbrio entre o reforço da hierarquia social e a promoção da coesão que beneficia todos os membros da manada.
Em resumo, a vida em grupo é essencial para a sobrevivência dos cervídeos. Esse comportamento social promove a proteção contra predadores e facilita a procura por recursos alimentares, demonstrando a importância dessas interações sociais na evolução e na adaptação das espécies.
Demarcação de Território
A demarcação de território é um aspecto crucial do comportamento dos cervídeos, que desempenha um papel vital na sua sobrevivência e reprodução. Esses animais utilizam diversas técnicas para sinalizar sua presença e definir os limites de seu espaço, evitando assim conflitos com outros grupos.
A demarcação é uma ferramenta vital de comunicação química. Os cervídeos utilizam glândulas odoríferas localizadas em diversas partes do corpo (como na face, entre os cascos e na região interdigital) para marcar seu território e transmitir informações sobre identidade, status reprodutivo e dominância (GOSLING, 1982). Os machos esfregam a face em árvores e arbustos, depositando secreções das glândulas pré-orbitais. Além disso, a "fricção" (rubbing) e a "escoriação" (scraping) de árvores com os chifres são comportamentos visuais e olfativos combinados que servem para demarcar a área de dominância de um macho.
A territorialidade é mais evidente em machos durante a estação reprodutiva. O uso de glândulas odoríferas, raspagem de solo, marcação com galhadas e urina são comportamentos comuns na delimitação de território (GEIST, 1998).
Um dos métodos mais comuns é o esfregaço, onde os cervídeos esfregam seus corpos em árvores ou arbustos. Este comportamento não só deixa marcas visíveis, mas também deposita odores que contêm informações sobre a identidade e o estado reprodutivo do indivíduo.
Além do esfregaço, os cervídeos também utilizam fezes e urina como ferramentas de demarcação. As fezes, além de fornecer informações sobre a dieta e a saúde do animal, são frequentemente dispostas em locais estratégicos dentro de seu território. A urina, por sua vez, contém compostos químicos específicos que, ao serem liberados, ajudam a comunicar presença e prontidão para a reprodução. Esses odores têm a capacidade de durar por longos períodos, permitindo que outros cervídeos percebam a ocupação do território mesmo na ausência do indivíduo.
A importância da demarcação de território é evidente em suas implicações para a hierarquia social e a reprodução. Os machos, em particular, são conhecidos por serem territorialistas, defendendo com vigor suas áreas contra concorrentes. A demarcação clara dos limites pode ajudar a reduzir confrontos, permitindo que os cervídeos coexistam dentro de uma área geográfica compartilhada. Durante a época de reprodução, a defesa do território se torna ainda mais intensa, pois um espaço bem marcado significa maior acesso a fêmeas e, consequentemente, oportunidades de sucesso reprodutivo. A compreensão desse comportamento é essencial para a preservação e manejo eficaz dessas espécies em seus habitats naturais.
Comunicação e Vocalização
A comunicação é multimodal, envolvendo sinais químicos, visuais, acústicos e táteis.
· Vocalização: Os sons variam desde o balido de contato entre mãe e filhote até vocalizações de alto risco, como o bramido (ou bugle) do cervo-vermelho durante a época do cio, que anuncia a presença e condição física do macho para as fêmeas e para os rivais (REBY & MCCOMB, 2003). O grunhido de alarme é um sinal acústico crucial que alerta o grupo sobre perigos iminentes.
· Sinais Visuais: A postura corporal, a cauda ereta (sinal de alarme no veado-de-cauda-branca) e o tamanho das galhadas são sinais visuais importantes para indicar intenções e estabelecer hierarquias sem a necessidade de combates físicos dispendiosos.
Verifica-se que a comunicação desempenha um papel essencial na vida social dos cervídeos, facilitando a interação entre membros da espécie e garantindo a sua sobrevivência. Os cervídeos utilizam uma variedade de sinais visuais e olfativos para expressar emoções, alertar sobre predadores e reforçar laços sociais. Os sinais visuais, que incluem posturas corporais e expressões faciais, são fundamentais durante interações sociais, especialmente durante a época de acasalamento. Por exemplo, os machos podem exibir comportamentos como levantar os chifres ou estufar o peito para mostrar força e atratividade para as fêmeas, enquanto fêmeas podem responder com movimentos sutis, indicando receptividade ou interesse.
A comunicação ocorre por meio de sinais visuais, químicos e sonoros. O balido, o bramido e o ronco são exemplos de vocalizações utilizadas na defesa de território, no cortejo e no reconhecimento entre indivíduos. Além disso, odores glandulares desempenham papel crucial no reconhecimento social (NOWAK, 1999).
Além dos sinais visuais, os cervídeos possuem um elaborado sistema de comunicação olfativa. As glândulas de odor, localizadas em diferentes partes do corpo, liberam substâncias químicas que contêm informações sobre o estado emocional do indivíduo. Por exemplo, a urina é frequentemente utilizada para marcar território e sinalizar disponibilidade reprodutiva. Quando um cervídeo detecta o odor de urina de um conspecífico, pode discernir aspectos como a saúde e o status reprodutivo, o que é crucial para a formação de pares e a compreensão da dinâmica social dentro do grupo.
Além disso, a comunicação acústica não deve ser negligenciada. Os cervídeos emitem sons como gritos, roncos e lamentos, que possuem variados propósitos. Esses sons são frequentemente usados para alertar membros do grupo sobre ameaças iminentes, ajudando a garantir a segurança coletiva. Em suma, a comunicação entre os cervídeos é um fenômeno complexo que envolve múltiplos modos de expressão, refletindo suas interações sociais e a necessidade de cooperação dentro do grupo.
Observa-se que a vocalização dos cervídeos é um aspecto fascinante que desempenha um papel fundamental na comunicação e interação social entre esses animais. Eles emitem uma variedade de sons que possuem diferentes significados e funções, refletindo suas necessidades e comportamentos. Um dos tipos mais conhecidos de vocalização é o grito de alarme, utilizado para alertar outros membros do grupo sobre a presença de perigos, como predadores. Este som é frequentemente caracterizado por um tom agudo e rápido, que capta a atenção de outros cervídeos, permitindo que eles tomem precauções adequadas.
Além dos gritos de alarme, os cervídeos também utilizam vocalizações específicas durante a época de acasalamento. Os machos, por exemplo, costumam emitir sons profundos e ressonantes, conhecidos como chamados de acasalamento. Esses chamados servem para atrair fêmeas e também para estabelecer domínio sobre outros machos na área. A intensidade e a frequência desses chamados podem variar, dependendo de fatores como a idade, a saúde do animal e seu status social dentro do grupo.
Outro tipo de vocalização comum entre cervídeos são os sons suaves e menos frequentes, que muitas vezes são usados para comunicação entre mães e filhotes. Esses sons incluem grunhidos ou chamados reconhecíveis, que ajudam a mãe a localizar e acalmar seus filhotes em momentos de tensão. Essa forma de vocalização é essencial para o desenvolvimento social e emocional dos jovens cervídeos, ajudando-os a se integrar ao grupo e aprender sobre o ambiente ao seu redor.
Em suma, a vocalização dos cervídeos é um aspecto crucial de sua interação social e reprodução. Cada som tem sua própria função e significado, desempenhando um papel vital na sobrevivência e no comportamento desses animais fascinantes.
Migração dos Cervídeos
A migração é um fenômeno significativo entre várias espécies de cervídeos, afetando tanto suas estratégias de sobrevivência quanto a dinâmica ecológica das áreas que habitam. Este comportamento migratório é frequentemente associado à busca por alimentos, especialmente em regiões onde as estações do ano impactam a disponibilidade de recursos. Por exemplo, nas regiões mais frias, como o norte da América do Norte, muitos cervídeos, como alces e caribus, mudam de habitat durante o inverno para encontrar pastos mais nutritivos e abundantes. O deslocamento pode ser essencial para a manutenção de sua saúde e bem-estar, garantindo a sobrevivência em condições adversas.
Em espécies do Hemisfério Norte, como o caribu e o cervo-vermelho (Cervus elaphus), a migração é um comportamento adaptativo para explorar áreas de pastagem sazonais e evitar invernos rigorosos (FRYXELL; SINCLAIR, 1988). No entanto, em cervídeos sul-americanos, esse comportamento é pouco frequente, dado o clima mais estável.
Além da busca por alimento, a migração também pode ser influenciada por fatores climáticos e mudanças sazonais que afetam o comportamento reprodutivo e as interações sociais entre os cervídeos. Durante a primavera e o verão, os grupos podem se dispersar em áreas mais amplas para explorar novos terrenos enquanto os jovens estão sendo criados. Isso permite que adultos estabeleçam territórios de alimentação separados, minimizando a competição entre eles. Ao mesmo tempo, a migração facilita a busca por parceiros durante a estação de acasalamento, garantindo a continuidade da espécie.
Nem todas as espécies migram, mas para algumas, a migração é uma estratégia essencial para sobrevivência. Populações de cervos-da-virgínia (Odocoileus hemionus) nas Montanhas Rochosas, por exemplo, realizam migrações altitudinais, deslocando-se para vales em busca de alimento durante o inverno rigoroso (SAWYER et al., 2016). O alce também pode realizar movimentos sazonais em resposta à disponibilidade de alimento e à profundidade da neve.
As estratégias que os cervídeos empregam para migrar envolvem tanto o uso de pistas ambientais, como a luz do sol e a localização de constelações, quanto a memória espacial. Essas habilidades são cruciais para evitar predadores durante os deslocamentos, uma vez que cervídeos são frequentemente alvos de predadores naturais como lobos e ursos. A migração, portanto, desempenha um papel vital na saúde dos ecossistemas, ajudando a regular a vegetação e as populações de predadores ao promover o equilíbrio entre diferentes espécies. Este comportamento natural é um testemunho da profunda resiliência e adaptabilidade dos cervídeos em seus habitats.
Comportamento Alimentar e Forrageamento
Cervídeos são herbívoros ruminantes especializados no consumo de folhas, frutos, brotos e gramíneas. Seu comportamento de forrageamento depende da disponibilidade de recursos e da competição intra e interespecífica. Em ambientes tropicais, ajustam-se às variações sazonais de frutos e vegetação (EISENBERG; REDFORD, 1999).
Os cervídeos, conhecidos por sua adaptabilidade, exibem uma variedade de comportamentos alimentares que refletem suas necessidades nutricionais e o ambiente em que vivem. A dieta básica dos cervídeos é predominantemente herbívora, caracterizada por um consumo diversificado de vegetação, incluindo folhas, brotos, frutos e cascas de árvores. Diferentes espécies de cervídeos podem apresentar preferências alimentares específicas, o que é fortemente influenciado pela disponibilidade sazonal de recursos em seus habitats.
O forrageamento, ou a procura por alimento, é uma atividade vital para a sobrevivência dos cervídeos e varia ao longo das estações do ano. Durante a primavera e o verão, quando a vegetação é abundante, muitos cervídeos se dedicam a uma dieta rica em folhas frescas e brotos tenros. Essa fase é crucial para acumular reservas de gordura e nutrientes necessários, especialmente para as fêmeas gestantes e lactantes. Na fase outonal, os cervídeos podem mudar suas preferências alimentares, incorporando frutas e sementes que estão disponíveis, o que os ajuda a se preparar para o inverno.
No inverno, a dieta dos cervídeos se adapta ainda mais, tornando-se predominantemente composta de material mais fibroso, como ramos e cascas de árvores. Esta adaptação é essencial, visto que muitos alimentos mais nutritivos não estão disponíveis durante os meses mais frios. Durante esse período, as técnicas de forrageamento também se tornam mais estratégicas. Os cervídeos podem alternar entre diferentes áreas de forrageamento para maximizar a obtenção de nutrientes, utilizando seu olfato e audição para detectar fontes de alimento e potenciais predadores.
Além disso, a interação social entre cervídeos pode influenciar as práticas de forrageamento, com indivíduos estabelecendo hierarquias que determinam quem se alimenta primeiro em locais ricos em recursos. Esse comportamento não só garante que os cervídeos obtenham a nutrição necessária, mas também desempenha um papel importante na dinâmica reprodutiva e social da espécie.
Comportamento Reprodutivo
O sistema reprodutivo da maioria dos cervídeos é polígino, onde um macho se acasala com várias fêmeas. A época do acasalamento, conhecida como "cio" ou "berra", é um período de intensa atividade comportamental.
· Ritual de Acasalamento: Os machos estabelecem e defendem territórios ou haréns de fêmeas. Os bramidos servem para atrair fêmeas e desafiar outros machos.
· Combates: Quando a exibição visual e vocal não é suficiente para dissuadir um rival, os machos travam combates físicos, entrelaçando suas galhadas para determinar o vencedor, que ganha o direito de se acasalar.
· Cuidado Parental: O cuidado é exercido quase exclusivamente pela mãe, que esconde a cria em seus primeiros dias de vida, visitando-a apenas para amamentação, uma estratégia para evitar a detecção por predadores.
A reprodução dos cervídeos é marcada pela sazonalidade, ocorrendo geralmente em épocas específicas do ano. O macho disputa fêmeas por meio de confrontos físicos, exibição de vocalizações e demonstrações de força com as galhadas. As fêmeas selecionam parceiros com base em características como dominância e vigor físico (GEIST, 1998). Após a cópula, a fêmea geralmente dá à luz um ou dois filhotes, que permanecem escondidos nos primeiros dias de vida para evitar predação (NOWAK, 1999).
O comportamento reprodutivo dos cervídeos é um aspecto crucial para a sobrevivência da espécie, refletindo uma série de rituais e interações sociais. O ciclo de vida dos cervídeos envolve várias fases, começando com a maturidade sexual que, dependendo da espécie, pode ocorrer entre um e dois anos de idade. Durante o período de acasalamento, que em muitas espécies é denominado de "época de monta", os machos exibem um comportamento agressivo e competitivo para afirmar domínio e atrair fêmeas. Este fenômeno é frequentemente acompanhado de exibições de força, como embates entre machos e exibições vocais intensificadas.
A seleção de parceiro é uma etapa crítica no processo reprodutivo. As fêmeas tendem a escolher machos baseando-se em características como tamanho, força e eficiência em competição. Essa escolha não é meramente estética; machos que demonstram vigor e saúde são muitas vezes preferidos, uma vez que suas características podem ser transmitidas à prole, aumentando assim as chances de sobrevivência. Além disso, os machos frequentemente marcam território com cheiro, utilizando glândulas especializadas para liberar feromônios que atraem as fêmeas.
Após a cópula, as fêmeas gestam por um período que pode variar entre 180 a 240 dias, dependendo da espécie. Os cuidados parentais, que frequentemente recaem sobre as fêmeas, são essenciais para a sobrevivência das crias. As mães se tornam bastante protetoras e, após o nascimento, mantêm suas crias escondidas em locais seguros durante as primeiras semanas de vida. Essa estratégia tem como objetivo minimizar o risco de predação. Fatores ambientais, como o acesso a recursos e a pressão predatória, desempenham um papel importante na taxa de sucesso na reprodução dos cervídeos, influenciando suas populações de maneira significativa ao longo do tempo.
Considerações
Os cervídeos exibem ampla diversidade de comportamentos sociais, reprodutivos e alimentares, moldados pela adaptação aos ambientes em que vivem. Enquanto espécies gregárias e migratórias, como o caribu, dependem da vida em grupo para sobrevivência, cervídeos sul-americanos adotam estratégias mais solitárias e territoriais.
A comunicação, seja por vocalizações, odores ou marcações físicas, desempenha papel fundamental na reprodução e na defesa de território. O comportamento alimentar, baseado no forrageamento seletivo, reflete a plasticidade ecológica da família.
O estudo do comportamento dos cervídeos revela a complexidade de suas adaptações ecológicas e sociais. Desde a comunicação sutil por feromônios até os combates espetaculares durante a reprodução, cada comportamento representa uma solução evolutiva para os desafios impostos pelo ambiente. A pressão antrópica, como a fragmentação de habitats, altera drasticamente esses comportamentos, destacando a necessidade de integrar o conhecimento etológico em estratégias eficazes de conservação.
Compreender esses comportamentos é essencial para o manejo e a conservação das espécies, principalmente aquelas ameaçadas pela perda de habitat e pela caça ilegal. Pesquisas etológicas sobre cervídeos são fundamentais para subsidiar políticas públicas de preservação e manejo sustentável da biodiversidade.
Referências
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