Comportamento Reprodutivo dos Caprinos: Aspectos da Puberdade à Relação Mãe-Filhotes

Comportamento Reprodutivo dos Caprinos: Aspectos da Puberdade à Relação Mãe-Filhote Série: Criação e Manejo/ Comportamento e Bem Estar Animal/ Caprinos Projeto: Aprendendo com as Plantas e os Animais na Mini- Fazenda/ Eco Cidadão do Planeta ICA/UFMG. Artigo Técnico/ Ponto de Vista nº 3 Autores: Fred Figueiredo Queiroz  e Sabrina Pinheiro Nascimento Orientador: Délcio César Cordeiro Rocha ICA/UFMG

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Doutor Zoo

9/29/2025

Comportamento Reprodutivo dos Caprinos: Aspectos da Puberdade à Relação Mãe-Filhote

Série: Criação e Manejo/ Comportamento e Bem Estar Animal/ Caprinos

Projeto: Aprendendo com as Plantas e os Animais na Mini- Fazenda/ Eco Cidadão do Planeta ICA/UFMG.

Artigo Técnico/ Ponto de Vista nº 3

Autores: Fred Figueiredo Queiroz  e Sabrina Pinheiro Nascimento

Orientador: Délcio César Cordeiro Rocha ICA/UFMG

Resumo

O comportamento reprodutivo dos caprinos é um processo biológico complexo e sequencial, fundamental para o sucesso produtivo e o bem-estar animal. Este artigo tem como objetivo revisar e sintetizar os principais aspectos do comportamento reprodutivo, desde a puberdade até o estabelecimento do vínculo mãe-filhote. Aborda-se a puberdade e as manifestações do estro, incluindo os fatores que influenciam sua ocorrência. Discute-se a aceitação da monta pela fêmea e o significativo "efeito do macho" na sincronização e indução do ciclo estral. São descritos os comportamentos associados à gestação e ao desenvolvimento fetal, culminando no processo de parto e nos cuidados essenciais neste período. Por fim, é detalhada a crítica relação mãe-filhote, enfatizando os comportamentos de reconhecimento, amamentação e os cuidados neonatais que garantem a sobrevivência da cria. A compreensão desses comportamentos é imprescindível para o manejo reprodutivo eficiente, permitindo intervenções adequadas que maximizem a produtividade e garantam o bem-estar dos animais.

Palavras-chave: Cabras, Etologia, Estro, Parto, Vínculo Materno, Neonatologia, Caprinos. Reprodução. Puberdade. Parto. Relação mãe-filhote.

Introdução ao Comportamento Reprodutivo dos Caprinos

A caprinocultura é uma atividade de grande relevância socioeconômica, especialmente em regiões de climas áridos e semiáridos, fornecendo produtos como carne, leite e pele. O sucesso desta atividade está intrinsecamente ligado à eficiência reprodutiva do rebanho, a qual, por sua vez, depende da compreensão detalhada do comportamento natural dos animais.

O comportamento reprodutivo dos caprinos (Capra hircus) envolve um conjunto de processos biológicos e sociais fundamentais para a perpetuação da espécie e a eficiência em sistemas de produção animal. A puberdade, o comportamento estral, a aceitação de monta, o efeito do macho, a gestação, o parto e a relação mãe-filhote representam etapas interdependentes que garantem a continuidade reprodutiva.

O comportamento reprodutivo caprino compreende uma série de eventos fisiológicos e comportamentais interligados, que se iniciam com a maturidade sexual e se estendem até o desmame da prole. Este ciclo envolve mecanismos de sinalização, seleção e cuidado que asseguram a perpetuação da espécie. Perturbações neste processo, seja por manejo inadequado, estresse ou condições ambientais desfavoráveis, podem resultar em baixas taxas de concepção, elevada mortalidade neonatal e prejuízos econômicos.

A reprodução dos caprinos é essencial tanto para a manutenção da espécie quanto para a produtividade em sistemas agropecuários. Além dos fatores fisiológicos, os processos reprodutivos são fortemente influenciados pelo comportamento animal, que envolve comunicação, estímulos ambientais e relações sociais (SANTOS; SOUZA, 2019).

A compreensão do comportamento reprodutivo, desde a puberdade até o vínculo mãe-filhote, permite o desenvolvimento de técnicas de manejo mais eficazes, contribuindo para o aumento da eficiência produtiva, o bem-estar animal e a sustentabilidade dos sistemas de criação.

Observa-se que o comportamento reprodutivo dos caprinos é um aspecto essencial dentro da produção animal, servindo como base para a maximização da eficiência reprodutiva e, consequentemente, da produtividade na criação de caprinos. O entendimento desse comportamento, que abrange desde a época reprodutiva até as manifestações do estro, é crucial para gestões adequadas e bem-sucedidas na caprinocultura.

Dentre os fatores que influenciam a reprodução dos caprinos, a sazonalidade se destaca. Muitas raças de caprinos apresentam uma reprodução sazonal, o que significa que determinados períodos do ano são mais propícios para o acasalamento. Essa sazonalidade é frequentemente regulada por fatores ambientais, tais como a duração da luz do dia e as condições climáticas, que podem impactar a fisiologia reprodutiva dos animais. Além disso, a idade ao atingir a puberdade é um ponto crucial; caprinos fêmeas, como as cabras, geralmente entram na fase reprodutiva a partir de 6 a 12 meses, dependendo da raça e das condições nutricionais e ambientais.

Outro aspecto que deve ser considerado é o impacto do ambiente no comportamento reprodutivo. Estresses ambientais, como a superlotação, a temperatura extrema, e a disponibilidade de alimento, podem interferir significativamente na atividade reprodutiva e na saúde reprodutiva dos caprinos. Dessa forma, é essencial que os criadores adotem práticas de manejo que promovam um ambiente saudável para os animais, visando proporcionar condições ideais para a concepção e a gestação.

Entender o comportamento reprodutivo dos caprinos requer, portanto, uma análise de diversos fatores interligados, sendo fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes que promovam uma produção animal sustentável e lucrativa. Desta forma, este artigo busca compilar e discutir as principais etapas do comportamento reprodutivo das cabras, fornecendo uma visão integrada desde a puberdade até o estabelecimento do vínculo materno-filial, com base na literatura científica consolidada. O conhecimento etológico aprofundado permite ao produtor e ao técnico identificar sinais, antever problemas e adotar práticas de manejo que respeitem a natureza dos animais, promovendo assim um sistema de produção mais eficaz e ético.

Período de Puberdade em Caprinos

A puberdade em caprinos é definida como a idade na qual o animal é capaz de liberar gametas e exibir ciclos estrais férteis. Em cabras, este evento geralmente ocorre entre os 4 e os 12 meses de idade, sendo influenciado por fatores como raça, nutrição, peso corporal, época do ano (fotoperíodo) e presença de machos (EFFECT, 2005).

O comportamento estral, popularmente conhecido como "cio", é o período no qual a fêmea demonstra receptividade sexual ao macho e ocorre a ovulação. Os sinais comportamentais característicos do estro incluem:

· Inquietação e vocalização frequente: A cabra torna-se mais ativa e berra excessivamente.

· Abaixamento da cauda: Movimentos rápidos e laterais da cauda ("bandeira").

· Perda de apetite: Redução no consumo de matéria seca.

· Secreção vulvar: Presença de muco transparente e filante na vulva.

· Montar em outras fêmeas: Comportamento de dominância e manifestação de estro.

· Aceitação da monta: Permanece parada quando montada por um macho ou por outra fêmea.

A duração do estro é variável, geralmente entre 24 e 48 horas, e o ciclo estral, intervalo entre dois cios, tem uma média de 21 dias (variando de 18 a 24 dias). O reconhecimento preciso destes sinais é crucial para o sucesso da inseminação artificial ou da cobrição natural no momento ótimo.

A puberdade em caprinos ocorre, em média, entre quatro e oito meses de idade, dependendo de fatores como raça, nutrição e ambiente (MACHADO; ALMEIDA, 2020). O comportamento estral é marcado por mudanças fisiológicas e comportamentais nas fêmeas, como inquietação, vocalizações, cauda erguida e receptividade ao macho. Esse período é fundamental para a eficiência da reprodução e deve ser identificado pelo produtor para garantir acasalamentos planejados.

Observa-se que a puberdade em caprinos é uma fase crucial que marca o início da capacidade reprodutiva dos animais. Geralmente, esse período ocorre entre os 5 e 12 meses de idade, dependendo de fatores como a raça, nutrição e condições de manejo. A puberdade é caracterizada pelo desenvolvimento funcional dos órgãos reprodutivos e pela exibição de comportamentos relacionados ao estro. A identificação do início da puberdade é vital, pois essa fase estabelece a base para o desempenho reprodutivo futuro dos caprinos.

Durante a puberdade, as cabras começam a apresentar os primeiros sinais de cio, que são essenciais para a reprodução. O ciclo estral das fêmeas caprinas é afetado por vários fatores, incluindo a fotoperiodicidade, que se refere à duração do dia e da noite, além do estado nutricional e da interação social. A idade à qual a puberdade ocorre pode ser adiantada ou atrasada por diversas variáveis, como a saúde geral do animal e a presença de machos, que podem influenciar o estro das fêmeas através de feromônios.

A puberdade é um ponto vital na gestão reprodutiva dos caprinos, pois determina a eficiência na produção de leite e carne. Animais que atingem a puberdade precocemente podem ser utilizados em programas de reprodução, permitindo um ciclo de produção mais curto e aumentando a rentabilidade do rebanho. Portanto, é fundamental para os criadores compreender o período de puberdade e suas implicações, garantindo que as condições apropriadas de manejo e nutrição sejam proporcionadas para maximizar o potencial reprodutivo dos caprinos. Essa compreensão é essencial para a criação de estratégias eficientes de reprodução e produção no setor caprinocultor.

Comportamento Estral dos Caprinos

O ciclo reprodutivo dos caprinos é dominado por uma série de mudanças comportamentais que ocorrem durante a fase de estro, uma etapa crítica para a reprodução bem-sucedida. O ciclo estral dos caprinos, que geralmente dura cerca de 21 dias, é dividido em quatro fases: proestro, estro, metaestro e diestro. O estro, que é a fase em que a fêmea está receptiva à cópula, dura aproximadamente 24 a 48 horas e é marcado por uma série de sinais físicos e comportamentais distintivos.

Durante o estro, as caprinas exibem comportamentos específicos que incluem vocalizações aumentadas, aumento da agitação e busca ativa de machos. Além disso, é comum observar que a fêmea apresenta posturas características, como a elevação da cauda e a mudança na posição do corpo, visando sinalizar sua disponibilidade aos machos. A observação atenta de tais sinais é essencial para os criadores, que podem assim sincronizar a reprodução e otimizar as taxas de concepção.

Outro aspecto importante a considerar é a influência do ambiente e fatores externos, como clima e manejo. Por exemplo, as caprinas podem ser mais receptivas ao acasalamento em condições de luz adequada e temperatura amena, o que reforça a necessidade de um manejo que considera as condições de estresse, que podem impactar significativamente o comportamento estral. Portanto, a observação cuidadosa e a documentação dos comportamentos estrais permitem que os criadores ajustem suas práticas de manejo e maximizem a eficiências da reprodução.

Em suma, o comportamento estral dos caprinos não apenas representa um indicador vital da saúde reprodutiva, mas também um ponto focal essencial para práticas de manejo reprodutivo eficazes. O entendimento profundo desse comportamento e a implementação de técnicas de observação podem levar a resultados reprodutivos mais bem-sucedidos e sustentáveis na caprinocultura.

Aceitação de Monta e Efeito do Macho

A aceitação da monta é o sinal comportamental mais confiável para identificar fêmeas em estro. Este comportamento é desencadeado por uma complexa interação de hormônios, principalmente o estrógeno. Fêmeas que não estão em estro rejeitam vigorosamente a tentativa de monta, afastando-se ou empinando.

A aceitação da monta ocorre quando a fêmea em estro se mostra receptiva ao macho. O “efeito do macho” consiste no estímulo reprodutivo provocado pela introdução ou presença de um macho sexualmente ativo próximo às fêmeas, desencadeando a ciclicidade estral e aumentando a taxa de concepção (OLIVEIRA; REIS, 2018). Essa técnica é amplamente utilizada no manejo reprodutivo de rebanhos.

Um fenômeno de grande importância prática na caprinocultura é o "Efeito do Macho" ou "Efeito Macho-Cabrito". Trata-se da introdução de um macho intacto (bode) ou de sua feromona (odor) em um lote de fêmeas em anestro (período de inatividade reprodutiva, comum fora da estação de acasalamento). A presença do macho atua como um estímulo neuroendócrino, induzindo a sincronização e o retorno da atividade cíclica nas fêmeas em um curto espaço de tempo, geralmente de 2 a 10 dias (CHEMINEAU et al., 2007). Este efeito é uma ferramenta de manejo valiosa para programar e concentrar os partos, otimizando a mão de obra e a comercialização dos produtos.

Observa-se que a aceitação de monta em caprinos é um aspecto crucial do comportamento reprodutivo, refletindo diretamente na eficácia da reprodução e no sucesso da concepção. Essa aceitação pode ser influenciada por uma variedade de fatores, incluindo o estado de saúde e a condição nutricional das fêmeas. Caprinos em condições nutricionais adequadas tendem a exibir um comportamento de estro mais assertivo, aumentando assim as chances de serem montadas pelos machos. A nutrição desempenha um papel fundamental na regulação do ciclo estral, sendo essencial para a preparação do organismo da fêmea para a reprodução.

Além da nutrição, a saúde geral do caprino também afeta a aceitação de monta. Doenças ou estresses físicos podem levar a um comportamento reprodutivo alterado. A presença de doenças infecciosas, parasitas ou problemas metabólicos pode causar uma diminuição na libido da fêmea, resultando em uma menor disposição para aceitar a monta. Portanto, a manutenção de uma boa saúde animal deve ser priorizada para maximizar a aceitação de monta e, assim, a reprodução eficaz dos caprinos.

Ademais, a presença do macho desempenha um papel significativo no comportamento reprodutivo das fêmeas. O chamado “efeito do macho” é um fenômeno bem documentado onde a introdução de um macho, especialmente um novato, no grupo de fêmeas pode induzir um aumento na atividade estral. Essa resposta é frequentemente atribuída a feromônios e comportamentos de cortejo que estimulam as fêmeas a tornarem-se receptivas. A seleção do macho é, portanto, um aspecto importante a ser considerado, uma vez que a genética e as características comportamentais do macho podem influenciar não apenas a aceitação de monta, mas também a qualidade da prole. Escolher machos saudáveis e geneticamente superiores é crucial para o sucesso na reprodução dos caprinos.

Gestação e Parto em Caprinos

Após a fecundação, inicia-se o período de gestação, que em caprinos tem duração média de 150 dias (aproximadamente 5 meses). Durante este período, as fêmeas gestantes podem exibir mudanças comportamentais sutis, como:

· Aumento da tranquilidade: Tornam-se menos ativas e mais cautelosas.

· Aumento do apetite: Buscam mais alimento para suprir as demandas nutricionais do feto.

· Isolamento: Próximo ao parto, tendem a se afastar do rebanho em busca de um local tranquilo para parir.

O desenvolvimento fetal é acelerado no último terço da gestação, exigindo ajustes no manejo nutricional para prevenir doenças como a toxemia da prenhez. O fornecimento de ambiente calmo e confortável é essencial para evitar abortos por estresse.

A gestação em caprinos dura, em média, 150 dias e envolve adaptações fisiológicas e comportamentais. Durante esse período, as fêmeas tendem a reduzir atividades de alta intensidade, buscando ambientes mais tranquilos. O acompanhamento do desenvolvimento fetal é essencial para garantir partos bem-sucedidos e neonatos saudáveis (FERREIRA et al., 2022).

A gestação em caprinos, ou cabras, tem uma duração média de cerca de 150 dias, podendo variar entre 145 a 155 dias. Durante esse período, a saúde e o bem-estar da fêmea são fundamentais para o desenvolvimento adequado dos embriões. É imprescindível que os criadores proporcionem uma nutrição equilibrada, que atenda às necessidades energéticas e nutricionais da caprina, garantindo assim uma gestação saudável. A suplementação mineral e vitamínica também é recomendada para evitar deficiências que possam afetar a saúde materna e a dos filhotes.

Parto: Processos e Cuidados Necessários

O parto (expulsão do feto) é dividido em três estágios:

1. Dilatação: Caracterizado por inquietação, olhar para o flanco, levantar e deitar frequentemente, e ruptura do "tapete placentário" (bolsa d'água). Dura de 2 a 12 horas.

2. Expulsão do Feto: A fêmea faz força ativamente. A apresentação normal é com as patas dianteiras primeiro, com a cabeça apoiada sobre elas. Este estágio não deve ultrapassar 30 a 60 minutos. Qualquer demora pode indicar distocia (parto difícil) e requer intervenção humana ou veterinária.

3. Expulsão da Placenta: Ocorre geralmente de 30 minutos a 8 horas após o parto. A retenção de placenta além de 12 horas é considerada anormal.

Os cuidados durante o parto incluem fornecer um piquete-maternidade limpo, seco e com sombra, além de observar discretamente o processo, intervindo apenas se necessário para evitar contaminação e estresse desnecessário.

O parto é um evento crítico na reprodução dos caprinos, dividido em três estágios: dilatação cervical, expulsão do feto e dequitação das membranas fetais. Alterações comportamentais incluem isolamento, inquietação e vocalizações específicas. O monitoramento adequado permite reduzir riscos de distocia e aumentar a sobrevivência neonatal (CARVALHO et al., 2021).

É importante observar os sinais de que a caprina está se aproximando do parto. Mudanças no comportamento, como inquietação, busca por local adequado, e a formação de uma bolsa de água são indicativos de que o parto é iminente. Outros sinais incluem a perda do apetite e a alteração nas glândulas mamárias, que podem começar a produzir colostro, o leite inicial importante para a saúde dos recém-nascidos.

Existem alguns tipos de parto em caprinos, sendo os mais comuns o parto simples e o parto gemelar. O parto simples ocorre com o nascimento de um único filhote, enquanto o gemelar é caracterizado pelo nascimento de dois ou mais filhotes. Ambos podem apresentar complicações, como distocias, que podem ocorrer devido à posição dos filhotes ou ao tamanho excessivo deles em relação ao canal do parto. Assim, é vital que os criadores estejam atentos a qualquer sinal de dificuldade e, se necessário, busquem a orientação de um veterinário especializado para garantir a saúde da mãe e dos filhotes. O manejo adequado durante a gestação e o momento do parto contribui significativamente para o sucesso reprodutivo na caprinocultura.

Relação Mãe-Filho no Comportamento Reprodutivo

Imediatamente após o parto, inicia-se o crítico período de formação do vínculo mãe-filhote. A mãe lambe vigorosamente o recém-nascido, estímulo que remove membranas fetais, seca a cria, estimula a respiração e a circulação, e permite o reconhecimento individual pelo odor (NOWAK et al., 2011).

O reconhecimento materno é fundamental para o sucesso da amamentação. As cabras identificam seus filhotes principalmente pela vocalização (berro) e pelo cheiro, rejeitando cabritos estranhos. A amamentação deve ocorrer nas primeiras 2 horas de vida, para que a cria ingerir o colostro, rico em anticorpos e nutrientes essenciais para a imunidade passiva.

A relação entre mãe e filhote é estabelecida logo após o nascimento, quando a fêmea realiza o reconhecimento olfativo, auditivo e visual da cria. O aleitamento inicial, com ingestão do colostro, é fundamental para a imunidade passiva e o desenvolvimento saudável do recém-nascido (FERREIRA et al., 2022). Esse vínculo assegura a sobrevivência e o bem-estar dos cabritos, reforçando a importância dos cuidados neonatais no manejo.

Os comportamentos neonatais do cabrito incluem tentativas de levantar-se (dentro de 30 minutos) e mamar. A mãe emite um "berro de contato" de baixa frequência para chamar a cria. A separação precoce, o estresse ou interferências excessivas podem romper este vínculo, levando ao abandono ou à rejeição da cria. Portanto, o manejo deve ser mínimo e cuidadoso nas primeiras 48 horas de vida.

A relação entre mãe e filho no contexto reprodutivo dos caprinos é um elemento crucial que influencia não apenas o desenvolvimento da cria, mas também a saúde e a sobrevivência a longo prazo dos filhotes. Durante a gestação e após o nascimento, a mãe desempenha um papel significativo através de comportamentos que garantem a proteção e nutrição dos filhotes. Esses comportamentos maternos incluem a construção de um ambiente seguro para a cria, que é vital para reduzir o estresse e proporcionar um espaço adequado para o aleitamento.

O aleitamento, por sua vez, é fundamental para o desenvolvimento inicial dos filhotes, fornecendo não apenas nutrientes essenciais, mas também anticorpos que fortalecem o sistema imunológico. A qualidade e a quantidade do leite materno impactam diretamente na saúde dos filhotes, influenciando seu crescimento e resistência a doenças. Pesquisas indicam que a variação na intensidade do aleitamento pode afetar o peso e a vitalidade dos filhotes, destacando a importância de uma dieta nutricionalmente rica para a mãe, que, por sua vez, favorece uma lactação eficaz.

Além disso, o comportamento da mãe durante os primeiros dias de vida dos filhotes é determinante. Mães que demonstram cuidado e atenção tendem a ter filhotes mais adaptáveis e socialmente equilibrados. Aspectos emocionais também são relevantes; a ausência de estresse na mãe influencia positivamente o desenvolvimento emocional dos filhotes. Caprinos são animais altamente sociais, e a forma como a mãe interage com os filhotes pode estabelecer a base para suas futuras interações sociais dentro do grupo. Portanto, compreender a relação mãe-filho é essencial para otimizar o manejo reprodutivo e garantir a saúde e bem-estar dos caprinos.

Considerações

O comportamento reprodutivo dos caprinos é uma sequência integrada de eventos, desde a puberdade até o estabelecimento do vínculo mãe-filhote. Cada fase possui suas particularidades e sinais comportamentais específicos, que devem ser compreendidos e respeitados. A observação atenta do estro, a utilização estratégica do efeito do macho, o fornecimento de condições adequadas para o parto e a minimização de interferências no período pós-parto são práticas de manejo que, baseadas no conhecimento etológico, culminam em maior eficiência reprodutiva, melhor bem-estar animal e, consequentemente, em maior rentabilidade para o sistema de produção. Investir no entendimento do comportamento natural dos caprinos é investir no sucesso sustentável da caprinocultura.

O comportamento reprodutivo dos caprinos é um processo complexo que vai além da fisiologia, englobando aspectos sociais, ambientais e comportamentais. A puberdade e o comportamento estral determinam o início da atividade reprodutiva, enquanto a aceitação de monta e o efeito do macho representam mecanismos que favorecem a fertilidade do rebanho.

A gestação e o parto são momentos críticos que demandam atenção especial do manejo, tanto para garantir a saúde da fêmea quanto para assegurar a sobrevivência dos neonatos. Por fim, a relação mãe-filhote demonstra a importância da comunicação e do vínculo social para o sucesso da reprodução.

Compreender esses elementos permite aprimorar práticas de manejo reprodutivo, contribuindo para sistemas produtivos mais eficientes, sustentáveis e alinhados com os princípios de bem-estar animal.

Referências

  • CARVALHO, M. L.; PEREIRA, R. F.; SILVA, A. J. Etologia de caprinos: aspectos sociais e reprodutivos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 50, p. 1-12, 2021.

  • CHEMINEAU, P. et al. Stimulation of the reproductive axis during the non-breeding season in female goats using male effect. Animal Reproduction Science, v. 102, n. 1-2, p. 1-13, 2007.

  • EFFECT of the male on the onset of puberty in female goats. Reproduction Nutrition Development, v. 45, n. 3, p. 287-300, 2005.

  • FERREIRA, T. A.; LIMA, D. S.; MOURA, C. R. Vínculo materno-filial em caprinos: comunicação e sobrevivência. Ciência Animal, v. 32, n. 2, p. 45-56, 2022.

  • MACHADO, G. P.; ALMEIDA, V. C. Comportamento social de pequenos ruminantes. Revista de Etologia Animal, v. 15, n. 1, p. 22-34, 2020.

  • NOWAK, R.; PORTER, R. H.; LÉVY, F.; ORGEUR, P. Role of mother-young interactions in the survival of offspring in domestic mammals. Reviews of Reproduction, v. 5, n. 3, p. 153-163, 2011.

  • OLIVEIRA, H. R.; REIS, F. M. Olfato e reprodução em caprinos: interações químicas e sociais. Arquivos de Zootecnia, v. 67, n. 3, p. 89-101, 2018.

  • SANTOS, F. A.; SOUZA, M. E. Comunicação animal e efeito macho em caprinos. Acta Veterinaria Brasilica, v. 13, n. 4, p. 250-260, 2019.

Como Citar:

Portal DOUTORZOO. QUEIROZ, F. F.; NASCIMENTO, S. P; ROCHA, D.  C. C. Comportamento Reprodutivo dos Caprinos: Aspectos da Puberdade à Relação Mãe-Filhote. Série: Criação e Manejo/ Comportamento e Bem Estar Animal/ Caprinos. Artigo Técnico/ Ponto de Vista nº3. Disponível em: https://doutorzoo.com/comportamento-reprodutivo-dos-caprinos-aspectos-da-puberdade-a-relacao-mae-filhotesPublicado em 2025. Acesso em DIA/ MÊS/ ANO

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