Comportamento Social dos Caprinos: Uma Análise da Comunicação e Interações Intraespecíficas

Comportamento Social dos Caprinos: Uma Análise da Comunicação e Interações Intraespecíficas Série: Criação e Manejo/ Comportamento e Bem Estar Animal/ Caprinos Projeto: Aprendendo com as Plantas e os Animais na Mini- Fazenda/ Eco Cidadão do Planeta ICA/UFMG. Artigo Técnico/ Ponto de Vista nº 2 Autores: Fred Figueiredo Queiroz  e Sabrina Pinheiro Nascimento Orientador: Délcio César Cordeiro Rocha ICA/UFMG

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Doutor Zoo

9/29/2025

Comportamento Social dos Caprinos: Uma Análise da Comunicação e Interações Intraespecíficas

Série: Criação e Manejo/ Comportamento e Bem Estar Animal/ Caprinos

Projeto: Aprendendo com as Plantas e os Animais na Mini- Fazenda/ Eco Cidadão do Planeta ICA/UFMG.

Artigo Técnico/ Ponto de Vista nº 1

Autores: Fred Figueiredo Queiroz  e Sabrina Pinheiro Nascimento

Orientador: Délcio César Cordeiro Rocha ICA/UFMG

Resumo:

Os caprinos (Capra aegagrus hircus) são animais naturalmente gregários, cuja complexa estrutura social é fundamental para seu bem-estar e sobrevivência. Este artigo tem como objetivo explorar os principais aspectos do comportamento social dos caprinos, com foco nos canais de comunicação (visual, olfativa e vocal) e nos padrões de interação que definem suas relações, desde o vínculo materno-filial até as hierarquias de dominância em grupos adultos. A compreensão desses comportamentos é crucial para práticas de manejo etologicamente corretas na produção animal.

Palavras-chave: Etologia Caprina; Comportamento Social; Comunicação Animal; Hierarquia; Bem-estar Animal

Introdução ao Comportamento Social dos Caprinos

Os caprinos (Capra hircus) são animais domesticados de grande relevância econômica e social, amplamente criados em diferentes regiões do mundo, inclusive no Brasil, onde ocupam papel estratégico na agricultura familiar e em sistemas produtivos de pequeno e médio porte. Sua adaptabilidade a diferentes climas e sistemas de manejo os torna uma espécie importante para a produção de leite, carne e pele (SILVA et al., 2020).

Os caprinos são espécies de ungulados altamente sociais, que evoluíram vivendo em bandos onde a cooperação e o reconhecimento individual são essenciais para evitar predadores e acessar recursos (SHULTZ; DUNBAR, 2006). Sua vida social é mediada por um repertório diversificado de comportamentos e sinais de comunicação. O estudo dessas interações não é apenas de interesse zoológico, mas também prático, uma vez que o estresse social decorrente de um manejo inadequado pode impactar negativamente a produtividade e a saúde dos rebanhos (MIRANDA-DE LA LAMA; MATTIELLO, 2010).

O comportamento social dos caprinos é caracterizado por interações complexas que visam a manutenção da coesão do grupo, a sobrevivência individual e o sucesso reprodutivo. Como animais de hábito gregário, sua organização social depende de mecanismos de comunicação variados, que incluem visão, olfato, vocalizações e contato físico (MACHADO; ALMEIDA, 2020).

Os caprinos, como animais altamente sociais, demonstram uma variedade significativa de comportamentos que são cruciais para sua sobrevivência e bem-estar. Pertencentes à família Bovidae, esses animais, que incluem as cabras domesticas e selvagens, estão sempre se envolvem em interações sociais complexas, as quais são fundamentais ao longo de suas vidas. O comportamento social dos caprinos é moldado pela necessidade de coexistência dentro de grupos, que lhes proporciona proteção contra predadores e acesso a recursos, como alimento e água.

A dinâmica social dos caprinos é notável, uma vez que eles estabelecem hierarquias dentro de seus grupos, conhecidas como estruturas sociais. Essas hierarquias não são fixas, mas influenciam as interações diárias, incluindo a disponibilidade de alimentos e o acesso a parceiros reprodutivos. Os caprinos comunicam-se por meio de vocalizações, expressões faciais e posturas corporais, cada uma desempenhando um papel crítico na formação dessas interações. Por sua natureza, eles demonstram comportamentos de inclusão e exclusão, que ajudam a manter a coesão social e a estabilidade do grupo.

As características sociais dos caprinos se desenvolvem por meio da interação contínua entre os membros do grupo. Durante sua fase de vida, os jovens aprendem com os adultos, observando e imitando comportamentos que são essenciais para a sua adaptação social futura. Além disso, o suporte social entre os caprinos se reflete na maneira como cuidam uns dos outros, promovendo um ambiente onde todos podem prosperar. Isso demonstra a importância das interações sociais para a saúde física e mental dos caprinos, destacando a necessidade de proporcionar um ambiente enriquecido que suporte suas características sociais e comportamentais naturais.

Compreender essas dinâmicas é essencial para que práticas de manejo respeitem os padrões comportamentais naturais da espécie, contribuindo para a redução de estresse, prevenção de conflitos e melhoria no bem-estar animal. Com o objetivo de analisar os principais aspectos da comunicação e interações sociais em caprinos, destacando a relevância desses fatores na reprodução, no vínculo materno-filial, nas disputas hierárquicas e nos comportamentos lúdicos, este artigo sintetiza o conhecimento atual sobre a comunicação e as interações sociais nos caprinos, abordando a importância dos sentidos, as relações específicas e os comportamentos de conflito e afiliação.

Comunicação entre Caprinos

A comunicação é essencial para o convívio social dos caprinos. Ela ocorre por meio de sinais visuais, auditivos, olfativos e táteis. Vocalizações são utilizadas para manter contato entre indivíduos, especialmente entre mães e filhotes, enquanto sinais posturais indicam dominância ou submissão (CARVALHO et al., 2021).

Verifica-se que a comunicação caprina é multimodal, integrando sinais visuais, olfativos, auditivos e táteis para transmitir informações sobre identidade, estado emocional, intenções e status social. Assim sendo, a comunicação entre caprinos é um aspecto fundamental do seu comportamento social, permitindo-lhes interagir de maneira eficaz dentro de seus grupos. Os caprinos utilizam uma variedade de métodos para se comunicar, incluindo vocalizações, sinais visuais e olfativos. Cada um desses modos de comunicação desempenha um papel crucial na expressão de emoções e na manutenção das relações sociais. Por exemplo, as vocalizações, que podem incluir balidos, grunhidos e outros sons, são frequentemente usadas para sinalizar estados emocionais ou para chamar a atenção de outros membros do grupo.

Além das vocalizações, os caprinos também se comunicam através de sinais visuais. Isso inclui posturas corporais, gestos e expressões faciais. Por exemplo, a inclinação da cabeça ou o posicionamento das orelhas pode indicar agressividade ou submissão, ajudando, assim, a estabelecer e manter a hierarquia social dentro do grupo. Esses sinais são essenciais para ajudar os caprinos a evitar conflitos desnecessários, promovendo uma dinâmica de grupo mais harmoniosa.

Os sinais olfativos também são uma parte importante da comunicação caprina. Através de feromônios e outros odores, esses animais podem transmitir informações sobre seu estado reprodutivo, saúde ou mesmo sua presença no ambiente. Essa forma de comunicação é frequentemente utilizada para alertar os outros sobre potenciais perigos ou mudanças no ambiente, ajudando a garantir a segurança do grupo.

Em suma, a comunicação entre caprinos, através de vocalizações, sinais visuais e olfativos, é vital para a formação de laços sociais e a estrutura das hierarquias dentro dos grupos. O entendimento dessas interações comunica a importância da comunicação na sobrevivência e no bem-estar social dos caprinos, refletindo a complexidade de suas relações sociais. A observação dessas interações pode oferecer insights valiosos sobre a vida social desses animais.

A Visão dos Caprinos e sua Importância Social

Os caprinos possuem visão lateral ampla, o que lhes confere vantagem na vigilância contra predadores e no acompanhamento do comportamento do grupo. A visão também auxilia no reconhecimento individual e no acompanhamento das interações hierárquicas (MACHADO; ALMEIDA, 2020).

A visão é um sentido primordial para a comunicação a curta e média distância. Os caprinos possuem um campo de visão amplo, essencial para a detecção de predadores e para monitorar os movimentos dos conspecíficos. A postura corporal é um sinal visual crucial. Por exemplo, uma orelha ereta e voltada para a frente pode indicar alerta, enquanto orelhas caídas podem sinalizar submissão ou doença (BOWERS; ALEXANDER, 2007).

A expressão facial também desempenha um papel. A posição da cabeça em relação ao corpo é um indicador claro de dominância ou submissão. Indivíduos dominantes frequentemente portam a cabeça erguida, enquanto os subordinados podem baixá-la em situações de confronto. O reconhecimento individual visual é aguçado, permitindo que os animais distingam conhecidos de estranhos, o que é fundamental para a coesão do grupo (SACCO et al., 2022).

Observa-se que a visão dos caprinos é um aspecto fascinante que desempenha um papel crucial em suas interações sociais e na dinâmica de grupo. Os caprinos possuem uma visão panorâmica notável, que se deve à posição lateral de seus olhos. Essa característica lhes permite um campo de visão de aproximadamente 320 graus, o que é benéfico para observar predadores em potencial. No entanto, essa perspectiva ampla também oferece alguns desafios, pois a visão binocular, que é necessária para percepção de profundidade, é limitada. Apesar disso, a habilidade de perceber movimentos sutis em seu ambiente é aprimorada, tornando-os altamente sensíveis às mudanças ao seu redor.

A percepção visual dos caprinos não se limita apenas à identificação de predadores; ela também é essencial para reconhecer membros de seu grupo. Estudos indicam que caprinos são capazes de reconhecer indivíduos com os quais têm um relacionamento social, utilizando sinais visuais e posturas corporais. Esse reconhecimento é fundamental para a criação de laços e hierarquias sociais dentro do grupo, impactando diretamente no comportamento coletivo e nas interações sociais. Além disso, a capacidade de identificar líderes dentro do grupo é influenciada pela visão, o que ajuda a manter a coesão social e a segurança do rebanho.

Os caprinos também demonstram um comportamento de observação ativo, estudando as reações de outros membros do grupo e ajustando suas próprias ações com base nessa interação. Esse aspecto da sua visão não apenas facilita a comunicação, mas também promove a empatia e a cooperação entre os caprinos. A combinação da percepção visual com outros sentidos, como a audição e o olfato, resulta em um comportamento social complexo e adaptável, que é essencial para a sobrevivência e sucesso da espécie em ambientes variados.

Olfato e seu Papel nas Interações Sociais

O olfato é altamente desenvolvido nos caprinos, sendo fundamental para a identificação de indivíduos, reconhecimento de parentesco e seleção sexual. Machos utilizam o olfato para identificar fêmeas em estro, enquanto mães reconhecem seus filhotes pelo cheiro característico (OLIVEIRA; REIS, 2018).

O olfato é fundamental para a comunicação química. Os caprinos possuem glândulas odoríferas em várias regiões do corpo, incluindo a base dos chifres, a região interdigital e próximas aos olhos. Essas secreções transmitem informações sobre identidade, status reprodutivo e até mesmo o estado de saúde do indivíduo (ALVES et al., 2015).

Um dos comportamentos olfativos mais característicos é o flehmen, uma resposta reflexa em que o animal levanta o lábio superior após cheirar a urina de uma fêmea ou outros odores. Este comportamento facilita a transferência de feromônios para o órgão vomeronasal, permitindo ao macho avaliar o estado de estro (cio) da fêmea (RIVIERA; BENJAMIN, 2018). O reconhecimento do cheiro da mãe pelo cabrito é vital para o estabelecimento do vínculo e para a amamentação bem-sucedida.

Verifica-se que o olfato é um dos sentidos mais desenvolvidos nos caprinos, desempenhando uma função essencial nas interações sociais entre os indivíduos. Esses animais utilizam aromas e feromônios para comunicar informações críticas, como seu estado emocional, sua disposição sexual e até mesmo a sua saúde. Através do olfato, caprinos são capazes de reconhecer a presença de outros membros do grupo, facilitando assim a formação de laços sociais e a construção de hierarquias dentro da manada.

As fêmeas, durante o período de cio, emitem feromônios específicos que atraem machos. Essa comunicação química é vital, pois permite que os machos identifiquem fêmeas férteis e, consequentemente, formem pares reprodutivos. Além disso, os odores podem transmitir informações sobre a compatibilidade genética, o que é fundamental para a perpetuação da espécie. Assim, o olfato não só desempenha um papel na atração sexual, mas também contribui para a escolha de parceiros adequados, favorecendo a saúde genética da população.

Ademais, o olfato é crucial na identificação de hierarquias sociais entre caprinos. Os indivíduos dominantes frequentemente exalam odores que sinalizam sua posição, enquanto os subordinados são reconhecidos por suas respostas a esses sinais. Essa dinâmica olfativa é particularmente importante em interações diárias, como durante a alimentação e o repouso, onde os caprinos ajustam seu comportamento com base nas informações olfativas recebidas.

Finalmente, o vínculo entre mães e filhotes também é fortemente mediado pelo olfato. As mães segregam odores intensos que ajudam os filhotes a reconhecê-las e a encontrarem-nas, mesmo em grupos grandes. Essa comunicação olfativa garante a sobrevivência dos jovens e fortalece os laços familiares, evidenciando a importância do olfato nas interações sociais dos caprinos.

Relação entre Mãe e Filhotes

A relação mãe-filhote é uma das interações mais importantes para a sobrevivência da espécie. O reconhecimento ocorre logo após o parto, quando a fêmea memoriza o odor e o balido do filhote, garantindo o vínculo e a amamentação exclusiva (FERREIRA et al., 2022).

O vínculo materno-filial é intenso e estabelecido nas primeiras horas de vida. A mãe lambe vigorosamente o recém-nascido, não apenas para secá-lo, mas também para memorizar seu odor único. Por sua vez, o cabrito memoriza o balido específico de sua mãe (NOWAK et al., 2011).

A comunicação vocal é particularmente importante nesta relação. Cabritos e suas mães emitem balidos de contato para se localizarem mutuamente, especialmente quando visualmente separados. Estudos mostram que tanto a mãe quanto o filhote são capazes de distinguir individualmente os chamados um do outro em meio a um rebanho vocalizando, demonstrando uma sofisticação notável na comunicação acústica (TERLOUW et al., 2021). A amamentação é um período de forte interação, onde o cabrito frequentemente estimula a região inguinal da mãe com cabeçadas, incentivando a descida do leite.

Assim sendo, a relação entre mães e filhotes de caprinos é um aspecto central do comportamento social, influenciando não apenas a sobrevivência dos jovens, mas também o desenvolvimento de suas habilidades sociais e emocionais. Desde o nascimento, os filhotes dependem do cuidado parental da mãe. Esse cuidado é visível através de práticas como a amamentação, que fornece os nutrientes essenciais para o crescimento e fortalecimento do sistema imunológico dos filhotes. A amamentação, além de suprir necessidades nutricionais, também promove um vínculo afetivo entre mãe e filhote, fundamental para o desenvolvimento emocional do caprino jovem.

No primeiro mês de vida, os filhotes de caprinos são particularmente vulneráveis, e a mãe desempenha um papel crucial na sua proteção e orientação. A interação da mãe com seus filhotes inclui comportamentos de lamparina, vocalizações e, em muitos casos, o uso de expressões faciais que ajudam os jovens a reconhecerem e interpretarem sinais sociais. Esses pré-requisitos de socialização são essenciais, pois facilitam a integração dos filhotes ao grupo social mais amplo à medida que crescem, estabelecendo um entendimento profundo do comportamento dos outros caprinos.

Além disso, a mãe também assume a função de professora, instruindo seus filhotes em habilidades sociais desde pequenos. Isso pode incluir ensiná-los a forragear e identificar quais alimentos são seguros para comer, bem como ensiná-los sobre a hierarquia social do grupo. O aprendizado e a adaptação social, proporcionados pela experiência com a figura materna, são cruciais para o desenvolvimento de interações sociais positivas entre caprinos e, em última análise, para sua capacidade de sobreviver e prosperar em um ambiente mais amplo. A força do vínculo entre mãe e filhotes reforça a importância desse relacionamento na vida dos caprinos.

Interações entre Machos e Fêmeas

As interações entre machos e fêmeas variam sazonalmente, intensificando-se durante o período reprodutivo. Machos reprodutores exibem comportamentos específicos para atrair fêmeas e afastar competidores, como o já mencionado flehmen, marcar o ambiente com glândulas odoríferas e emitir vocalizações graves e distintivas (RIVIERA; BENJAMIN, 2018).

O comportamento de corte pode incluir perseguição, lambidas e um "balido de corte" característico. Fêmeas no estro podem exibir inquietação e maior receptividade à aproximação dos machos, permitindo a monta. Fora da estação reprodutiva, as interações entre os sexos são geralmente mais pacíficas e integradas na estrutura social geral do rebanho.

A dinâmica social entre machos e fêmeas de caprinos é complexa e, em grande parte, influenciada pelo período de acasalamento. Durante essa época, as interações entre os sexos ficam mais intensas e envolvem comportamentos específicos que visam a reprodução. Os machos geralmente demonstram uma série de comportamentos exibições físicos e vocalizações, que têm como finalidade atrair a atenção das fêmeas. Essas exibições podem incluir posturas corporais amplas, movimentação rápida e até mesmo a produção de sons característicos, que podem denotar vigor e saúde.

Durante a estação reprodutiva, machos e fêmeas estabelecem interações específicas, marcadas por vocalizações, cheiros e posturas corporais. O comportamento do macho é intensificado pela presença de feromônios liberados pelas fêmeas em estro, fenômeno conhecido como “efeito macho” (SANTOS; SOUZA, 2019).

Durante a época de acasalamento, os machos competem entre si para estabelecer um hierarquia social, na qual demonstram suas capacidades de dominância. Esse comportamento é essencial, pois os machos dominantes frequentemente têm acesso preferencial às fêmeas, aumentando assim suas chances de reprodução. As fêmeas, por sua vez, observam esses comportamentos de dominância, avaliam as características físicas e a saúde dos machos, e escolhem o que consideram ser o parceiro mais adequado. Essa escolha é influenciada não apenas pela aparência, mas também pelo comportamento social demonstrado pelos machos.

Além disso, quando se estabelece a hierarquia social, ela pode gerar interações que variam de agressividade a comportamentos mais neutros entre os machos. Os machos que são considerados inferiores muitas vezes evitam o confronto direto e adotam comportamentos submissos, como afastamento e submissão durante a exibição de dominância. Estas interações não ocorrem apenas durante a época de acasalamento, mas moldam o comportamento social entre os caprinos ao longo do ano, refletindo como eles navegam em seus papéis sociais dentro do grupo. Assim, as interações entre machos e fêmeas são fundamentais para a compreensão do comportamento social dos caprinos.

Conflitos e Brigas entre Caprinos

As disputas entre caprinos estão associadas à definição de hierarquias sociais. Os machos, em particular, utilizam investidas com chifres e posturas de intimidação para estabelecer dominância dentro do grupo. Esses conflitos são geralmente ritualizados e evitam ferimentos graves (CARVALHO et al., 2021).

A estabilidade social em rebanhos de caprinos é mantida através de uma hierarquia de dominância claramente estabelecida, que é contestada e reafirmada por meio de conflitos. As brigas são mais comuns e intensas entre machos inteiros, especialmente na presença de fêmeas receptivas (ALVES et al., 2015).

Os comportamentos agonísticos incluem:

· Cabeçadas: O comportamento mais icônico, onde os animais se empurram com a cabeça, usando a testa e os chifres.

· Investidas: Ameaças onde um animal se move rapidamente em direção a outro.

· Golpes com os chifres: Movimentos laterais ou para baixo com os chifres.

· Posturas de ameaça: Incluem posicionar o corpo de lado para parecer maior e baixar a cabeça em direção ao oponente.

A hierarquia resultante determina o acesso prioritário a recursos limitados, como alimento, sombra e espaço, reduzindo a frequência de conflitos violentos uma vez estabelecida (MIRANDA-DE LA LAMA; MATTIELLO, 2010).

Dessa forma, os caprinos, como seres sociais, frequentemente se envolvem em conflitos e brigas, que podem ser motivados por uma variedade de fatores, incluindo disputas de recursos, como alimento e território, bem como por questões de liderança e status social dentro do grupo. Esses conflitos são uma parte natural de suas interações sociais e, em muitos casos, ajudam a estabelecer e manter uma hierarquia social entre os indivíduos. Quando um caprino se aproxima de outro, ele pode avaliar rapidamente a posição social do oponente, o que pode levar a uma série de comportamentos que visam determinar quem é o mais dominante.

As disputas entre caprinos muitas vezes envolvem manifestações de agressão, que podem variar de simples posturas ameaçadoras a lutas físicas diretas. Durante essas interações, um caprino dominante pode usar ameaças visuais como empurrões, cabeçadas e vocalizações para afirmar sua superioridade. Em muitos casos, no entanto, caprinos subordinados evitam o confronto direto e podem demonstrar comportamentos de submissão, como desviar o olhar e recuar, o que lhes permite evitar lesões e a perda de status.

Através da agressão e da submissão, os caprinos podem estabelecer um equilíbrio em seu ambiente social. No entanto, a verdadeira importância das interações sociais entre eles muitas vezes se revela na forma como eles lidam com os resultados dessas brigas. Comportamentos de reconciliação desempenham um papel crucial na restauração da harmonia social após um conflito. Esses comportamentos incluem o toque físico e vocalizações que indicam a intenção de reatar laços, permitindo que os caprinos retornem a um estado de convivência pacífica. A natureza social e dinâmica dos caprinos demonstra que, mesmo diante de disputas, a cooperação e a harmonia são vitais para a sobrevivência do grupo.

Brincadeiras e Comportamento Lúdico

As brincadeiras, mais comuns entre cabritos jovens, têm função importante na aprendizagem social. Atividades como corridas, saltos e simulações de luta auxiliam no desenvolvimento motor e no preparo para interações adultas (MACHADO; ALMEIDA, 2020).

O comportamento lúdico é predominante em cabritos jovens e é um indicador crucial de bem-estar e desenvolvimento saudável. Através da brincadeira, os jovens desenvolvem coordenação motora, força e aprendem as habilidades sociais que usarão na vida adulta, como os movimentos de luta e fuga (BOWERS; ALEXANDER, 2007).

As brincadeiras incluem:

· Correrias e saltos ("pronking"): Movimentos explosivos e acrobáticos, muitas vezes em grupo.

· Lutas simuladas: Cabritos empurram-se mutuamente com a cabeça e perseguem-se, mas sem a intensidade e ferocidade das brigas reais de adultos.

· Exploração de objetos: Morder, pular sobre ou bater com as patas dianteiras em objetos novos no ambiente.

A frequência do comportamento lúdico diminui com a idade, mas adultos podem ainda exibir brincadeiras, especialmente em ambientes enriquecidos e de baixo estresse.

Observa-se que as brincadeiras desempenham um papel crucial no comportamento social dos caprinos, contribuindo para o fortalecimento dos laços entre indivíduos e promovendo o desenvolvimento de habilidades fundamentais. Através de atividades lúdicas, os caprinos não apenas se divertem, mas também aprendem a interagir de maneira mais eficaz com seus semelhantes, o que é vital para a coesão do grupo. Esse tipo de interação incentivada pelas brincadeiras atua como um mecanismo natural de socialização que pode ser observado em várias espécies, incluindo os caprinos.

Os estilos de brincadeira podem variar consideravelmente entre os diferentes grupos de caprinos, refletindo tanto a personalidade dos indivíduos quanto o ambiente em que vivem. Entre as atividades lúdicas mais comuns estão as corridas, o pega-pega e o uso de objetos, como galhos ou bolas, para brincadeiras. Essas interações não apenas promovem a diversão, mas também são fundamentais para a expressão corporal e o desenvolvimento motor dos jovens caprinos, permitindo que eles aprimorem suas habilidades físicas e sociais.

Além disso, as brincadeiras ajudam a reduzir os níveis de estresse entre os caprinos, atuando como uma válvula de escape para a energia excessiva, o que é especialmente importante em ambientes com alta densidade populacional. O estresse, muitas vezes, pode levar a comportamentos indesejados, e a interação lúdica oferece um meio de canalizar a energia e as emoções de forma positiva. Ao observar grupos de caprinos em suas atividades de brincadeira, podemos entender melhor a dinâmica social presente, com líderes emergindo naturalmente e hierarquias se tornando mais claras.

Assim, as brincadeiras não são apenas momentos de diversão; elas são componentes essenciais da vida social dos caprinos, contribuindo para o desenvolvimento saudável e equilibrado dos membros do grupo. Portanto, ao considerar o comportamento social dos caprinos, é fundamental reconhecer a importância do brincar como um elemento chave para o bem-estar geral dos animais.

Considerações

O comportamento social dos caprinos é um sistema complexo e dinâmico, sustentado por uma comunicação multimodal eficiente. A visão, a audição e o olfato atuam de forma integrada para facilitar o reconhecimento individual, a manutenção de vínculos fortes (como o materno) e a estabilização da hierarquia social através de interações que variam do conflito à brincadeira. Reconhecer e respeitar essa complexidade inerente é um pilar para o bem-estar animal. Práticas de manejo que minimizam o estresse social, como evitar reagrupamentos frequentes de animais não familiares e fornecer espaço adequado, são essenciais para criar ambientes onde os caprinos possam expressar seus comportamentos naturais, refletindo positivamente na sua saúde e produtividade.

O comportamento social dos caprinos revela a complexidade das interações que sustentam a coesão grupal, a reprodução e a sobrevivência da espécie. A comunicação multimodal, baseada em visão, olfato, vocalizações e tato, é essencial para a manutenção das relações sociais.

O vínculo entre mãe e filhote, as interações reprodutivas, as disputas hierárquicas e as brincadeiras refletem a importância da socialização no desenvolvimento individual e coletivo.

Compreender esses aspectos é fundamental para o manejo racional em sistemas de produção, favorecendo práticas que assegurem tanto o bem-estar animal quanto a eficiência produtiva.

Referências

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Como Citar:

Portal DOUTORZOO. QUEIROZ, F. F.; NASCIMENTO, S. P; ROCHA, D.  C. C. Comportamento Social dos Caprinos: Uma Análise da Comunicação e Interações Intraespecíficas. Série: Criação e Manejo/ Comportamento e Bem Estar Animal/ Caprinos. Artigo Técnico/ Ponto de Vista nº2. Disponível em: https://doutorzoo.com/comportamento-social-dos-caprinos-uma-analise-da-comunicacao-e-interacoes-intraespecificasPublicado em 2025. Acesso em DIA/ MÊS/ ANO

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